EVANS-PRITCHARD, E. E. Algumas reminiscências e reflexões sobre o trabalho de campo. In: ______. Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. p. 298-398.(Apêndice 4).
Trabalho de campo - Antropologia - Resumo.
Segundo Evans-Pritchard não há uma única forma para a realização do trabalho de campo. Depende da pessoa, da sociedade que estuda, e das condições em que tem de fazê-lo.Ele diz que a primeira exigência para que se possa realizar uma pesquisa de campo é um treinamento rigoroso, para que se saiba como e o que observar, e o que é teoricamente significativo.É essencial percerbermos que os fatos, em si, não tem significado.Para que o possuam, devem ter certo grau de generalidade. É preciso saber, exatamente o que se quer saber, e isso só pode ser conseguido graças a um treinamento sistemático em antropologia social acadêmica. Nosso objeto de estudo são os seres humanos portanto um trabalho de pesquisa envolve toda a nossa personalidade. Dessa forma tudo aquilo que moldou essa personalidade também está envolvido. Portanto é um trabalho que envolve cabeça, coração, sexo, idade, classe social, nacionalidade, família, escola, igreja, amizades.O que se traz de um estudo de campo depende muito do que se leva para ele. Essa foi a minha experiência, tanto em minhas próprias pesquisas, quanto do que pude concluir das de meus colegas.Todo mundo vai a uma sociedade primitiva com ideias preconcebidas mas como Malinowski costumava lembrar, as do leigo são desinformadas, em geral preconceituosas enquanto que as do antropólogo são científicas, pelo menos no sentido do que se baseiam em um considerável corpo de conhecimento acumulado e meditado. Se ele não fosse ao campo com ideias preconcebidas, não saberia o que, nem como, observar. As observações do antropólogo são infletidas por seus interesses teóricos - o que simplesmente quer dizer que ele está ciente das várias hipóteses permitidas pelo conhecimento disponível e que, se seus dados o permitirem, vai testar essas hipóteses. Não se pode estudar nada sem teoria. O antropólogo deve seguir o que encontra na sociedade que escolheu estudar: a organização social, os valores e sentimentos do povo, e assim por diante. É desejável que o antropólogo estude mais de uma sociedade, embora isso nem sempre seja possível. Se realiza apenas um estudo é inevitável que perceba as instituições da sociedade estudada em contraste com as suas próprias, que contraste as ideias e valores desse povo com os de sua própria cultura, e isso apesar de todo o esforço corretivo implícito em seu conhecimento da literatura antropológica. O estudo de uma segunda sociedade possui também a vantagem de tornar o investigador mais experiente: ele já sabe que erros evitar, como iniciar mais rapidamente suas observações, como cortar caminho na investigação e como descernir sem muito esforço o que é relevante - pois pode ver os problemas fundamentais mais depressa. A desvantagem é que o período de publicação do material torna-se muito extenso. É esta ênfase britânica na pesquisa de campo que, certamente, explica o desaparecimento do tão celebrado método comparativo. A batalha decisiva não se trava no campo, mas depois que se volta. Quando o pesquisador volta do campo, e tem que escrever um livro sovre a sociedade que estudou, é que a importância de uma fundamentação teórica geral sólida começa a se revelar. Em ciência, para que a observação empírica tenha validade, é preciso que ela seja guiada e inspirada por alguma visão geral sobre a natureza dos fenômenos estudados. Só assim as conclusões teóricas aparecerão como implicitamente contidas em uma descrição exata e exaustiva.